Lidar com pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) em grau avançado requer suporte profissional para melhor qualidade de vida dos autistas e suas famílias
De acordo com a psicóloga e diretora da instituição, Natália Costa, o primeiro passo para que as famílias possam lidar com o indivíduo com TEA é entender as suas especificidades. “Muitas pessoas não sabem, mas o autismo é uma condição do neurodesenvolvimento que pode ser identificado na infância para iniciar a estimulação precoce para ajudar o desenvolvimento do individuo. A situação afeta a comunicação e pode comprometer até mesmo a capacidade da criança de aprendizado, além da sua adaptação a ambientes e situações diferentes daquelas que está habituada”, explica.
Segundo Natália Costa, as causas são multifatoriais, sendo mais importante o diagnóstico funcional do que o etiológico. “Alguns estudos consideravam o transtorno como resultado de dinâmica familiar problemática e de condições de ordem psicológica alteradas, mas isso foi uma hipótese que se mostrou totalmente errônea. A tendência atual é admitir que existem múltiplas causas para o autismo, entre eles eu cito os fatores genéticos, biológicos e os ambientais. O diagnóstico pode trazer sofrimento para a família, principalmente se ele não vier acompanhado de um apoio, informações e orientações acerca do que é o TEA e quais características a criança apresenta em maior ou menor grau. Lembro ainda, que é necessário verificar se há prejuízo ou não para as características apresentadas e por fim, estabelecer as linhas de intervenção, bem como a composição da equipe multiprofissional que vai atuar no caso”, completa.
Para que seja determinado o grau de TEA, algumas características são observadas. Pessoas com autismo leve (grau 1), se mostram mais autônomas nos diversos contextos do dia a dia, alcançando independência. Geralmente compreendem e cumprem regras e rotinas de casa com autonomia, vão driblando as dificuldades, estudam, trabalham e podem constituir família. Já os indivíduos com autismo moderado (grau 2), demandam mais apoio para se socializar, pois tendem a apresentar pouca iniciativa para interagir. Já no autismo severo (grau 3), os indivíduos apresentam dificuldades mais acentuadas e maiores comprometimentos, tendo iniciativa muito limitada e grande dificuldade para conversar e expressar o que desejam. Nesses casos a comunicação é mínima e pode haver comprometimento da fala e para expressar, precisando da ajuda de um mediador. È comum que o autismo venha acompanhado de deficiência intelectual e epilepsia. Nessas situações, o quadro clínico é mais desafiador.
Mesmo assim, Natália Costa salienta que o autismo não é uma condição inalterável, sendo totalmente possível que uma pessoa avance em relação ao estágio inicial. Assim, elas podem sair do grau grave para o moderado ou até passar a apresentar traços levíssimos, que é chamado de ‘caminhar no espectro’. “O avanço vai depender da intervenção e dos estímulos que a pessoa receber. O avanço só se dará se a frequência, a intensidade e qualidade desses estímulos forem adequadas, além da faixa etária em que começarem a ser introduzidos e da articulação entre os contextos. Ou seja, quanto mais cedo a estimulação precoce, principalmente nos primeiros anos da infância, quando o cérebro está aberto a mudanças, mais possibilidades a pessoa tem de se desenvolver”, completa a psicóloga.
Independente do grau de autismo da pessoa, a intervenção para a busca de melhores resultados se torna indispensável, mas, Natália Costa lembra que as pessoas que estão no grau 3, associado a deficiência mental e intelectual, precisam ainda mais. “Estes indivíduos precisam de suporte profissional, porque geralmente são dependentes, principalmente para realizar as atividades da vida diária, como ir sozinho ao banheiro, alimentar-se e higienizar-se. Elas precisam de apoio para a maior parte das tarefas, até porque, costumam se isolar”, salienta.
Para a diretora do CENSA Betim, o suporte se estende, também, para as famílias, que muitas vezes têm dúvidas de como lidar. “Além do acompanhamento profissional, como o que fazemos, é importante a participação dos pais nos cuidados e na interação cotidiana com esses indivíduos, de maneira que promovam habilidades de relação social, administrem problemas de comportamento e ensinem atividades de vida diária e comunicação. No caso da comunicação, o fonoaudiólogo é indicado para melhorar as habilidades de fala, a terapia ocupacional e a pedagogia para promover melhores práticas de ensino-aprendizagem, a psicologia para aumentar o repertório de comportamentos socialmente habilidosos e a fisioterapia para melhorar as questões motoras e de equilíbrio. Um exemplo é o nosso trabalho aqui no CENSA, que é desenvolvido por uma equipe transdisciplinar, que visa atuar em todos os aspectos necessários para o acompanhamento e desenvolvimento do educando, o que, consequentemente, reverbera em melhora da qualidade de vida para ele e sua família”, conclui Natália Costa.
CENSA Betim
Fundado em 1964, o CENSA Betim é referência nacional nos cuidados a pessoas com deficiência intelectual, associada ou não a outros transtornos, e da sua família, assegurando-lhes qualidade de vida e uma educação socializadora. A instituição conta com uma equipe transdisciplinar, composta por profissionais da medicina, psicologia, psiquiatria, além de cuidadores e educadores. Se destaca por oferecer uma proposta diferenciada, com atividades esportivas e recreativas, escolaridade especial, equitação e oficinas de música, teatro e artesanato, em um ambiente familiar e integrado à natureza.
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